A abdução é um fenômeno que ainda esconde muitos mistérios.
É comum os abduzidos relatarem ter passado por exames médicos a bordo de naves, muitas vezes ao lado de outros sequestrados que não conheciam.
Um dos aspectos mais relevantes da ciência é que ela nos disponibiliza instrumentos capazes de elucidar o fenômeno analisado.E, ao contrário do que muitos estudiosos pensam, tal conceito é perfeitamente aplicável à Ufologia, mormente ao campo das chamadas abduções. Não há, entretanto, um consenso em torno da origem do fenômeno. Ecoa uma profusão de vozes discordantes, que confundem e atrapalham as discussões. Uns são a favor da hipótese extraterrestre, segundo a qual alienígenas atuariam como cientistas realizando testes em animais e seres humanos a bordo de suas máquinas complexas. Outros – e nessa categoria se inclui a maior parte da comunidade científica – encaram e reduzem todo o fenômeno em termos estritamente sociológicos e psicológicos. A resolução do mistério da Ufologia começa necessariamente por uma aproximação mais direta com esse complexo fenômeno.
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sinais da abdução |
Por volta das oito da noite, um objeto voador não-identificado de cerca de 50 metros de circunferência, pairou silenciosamente a cerca de 100 m de altura, da casa em que um rapaz já dormia nessa cama e o abduziu, sugando-o para cima, de modo que atravessou o forro e o telhado.
Vinte e cinco pessoas teriam presenciado a cena que ocorreu numa fazenda próxima à cidade de Campo Grande, RJ, em novembro de 2002. O rapaz só retornou 48 horas depois. Essa teria sido sua terceira abdução.
A partir daí, estruturam-se as hipóteses pertinentes e avalia-se o que possuem de verdadeiro. Céticos e críticos pretenderam explicar o fenômeno sem nem sequer terem saído a campo e entrevistado uma única testemunha de contato simples ou de abduções. Seus juízos de valor não comportam uma compreensão profunda da dita experiência, concentrando-se em pseudo-conjecturas revestidas de preconceitos e destituídas de fundamento.
Não me refiro apenas às críticas do cético fanático, caracterizado pela ausência de flexibilidade mental, mas também aos dogmas dos crentes no Fenômeno UFO, afeitos a explicar e reduzir tudo à hipótese extraterrestre. Os critérios utilizados para selecionar os objetos de estudo da Ufologia surgem basicamente das notícias das próprias pessoas, sejam testemunhas de UFOs, seqüestradas por ETs ou vítimas de outras experiências bizarras. Suas vivências costumam ser primeiro submetidas à avaliação psiquiátrica. Se a experiência ultrapassa os limites dessa disciplina – havendo, por exemplo, a confirmação por parte de outras testemunhas ou indícios atestando a materialidade do UFO ou do fenômeno a ele relacionado –, procede-se à investigação ufológica propriamente dita, centrada nas testemunhas principais da ocorrência.
Limites da compreensão — As abduções, no meu entender, são os casos mais interessantes, pois na maioria das vezes ultrapassam os limites da compreensão a ponto de exacerbar as hipóteses convencionais – alucinações, patologias, alteração da consciência etc –, lançando-nos em uma dimensão antes desconhecida da realidade. Devemos avaliar cuidadosamente o quadro geral dos seqüestrados, e isso somente é possível com enfoque científico, por vezes ainda negligenciado nos meios ufológicos de todo o mundo – em especial do Chile, onde atuo e onde impera a desorganização e a precariedade de condições estruturais e intelectuais.
A partir do instante em que um grupo de pessoas começa a relatar experiências comprometedoras de seus estados emocionais, intelectuais e físicos, típicos de um caso de abdução, nos vemos diante de uma situação passível de ser reduzida a uma apreciação mais primária, de cunho psicossociológico. É perfeitamente possível estabelecer a influência cultural nos conteúdos de determinados relatos de abdução, identificando a construção do argumento com o padrão de seriados de televisão, filmes, livros de ficção científica etc.
Aprimorando a ciência — Em muitas dessas experiências os componentes de maior impacto referem-se à origem dos prováveis raptores e as circunstâncias do fato. Tal constatação já justifica a atenção por parte de profissionais da área da saúde mental – psicólogos e psiquiatras – e da sociologia, e como conseqüência induz a identificação dos fatores psicológicos e sociais envolvidos. Ademais, se houver indícios mensuráveis em termos empíricos, como fotos, filmes, vestígios químicos, resíduos metálicos e outros, deverão ser submetidos à análise em um laboratório competente. Seria possível assim trazer à tona uma realidade objetiva e independente do protagonista dessas vivências, dando margem a conjecturas sobre a origem externa do fenômeno, situando-o em um contexto muito mais amplo.
A Ufologia, por sua própria natureza multifacetada, é considerada uma área potencial de estudos, pois gera demanda de praticamente todas as ciências, como se verificou no conclave sobre abduções realizado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts [Massachusetts Institute of Technology, MIT], marco no avanço do reconhecimento da relevância desse complexo fenômeno para o saber humano. A Ufologia tem contribuído sobremaneira para o aprimoramento da própria ciência, estimulando o seu desenvolvimento mediante o comprometimento de profissionais em distintos projetos de pesquisa por todo o mundo. Estudos e teses têm sido elaborados em várias universidades, departamentos e institutos de pesquisa, seguindo uma linha científica rigorosa. Esforços e recursos são aliados e produzem resultados animadores.
No entanto, ainda se faz necessária, sem dúvida, uma aguda crítica às investigações do fenômeno das abduções, particularmente aquelas realizadas no Chile. Os poucos grupos ufológicos amadores que surgiram entre os anos 70 e 90 no país foram incapazes de abordar de maneira séria essa problemática. Havia situações patéticas com relação ao modo de encarar notícias dessa natureza por parte dos aficionados por UFOs. Certa vez, por exemplo, uma mulher se apresentou em um desses verdadeiros “clubes de discos voadores” informando estar vivenciando uma abdução.
Ela apresentava marcas pelo corpo, certa consciência sobre sua experiência e algumas situações de amnésia. A atitude dos “investigadores” foi a de somente escutá-la. Não tomaram nenhuma iniciativa de procurar um psicólogo ou hipnólogo, e nem sequer a entrevistaram para buscar antecedentes de avistamentos ou abduções. Tampouco traçaram um perfil psicológico e histórico da abduzida ou sondaram a área onde ela disse ter vivido suas experiências.
Ausência de testes psicológicos — O único esforço feito por outro grupo de ufólogos, para validar o relato de outro caso de abdução, foi o de compará-lo a uma experiência similar, encontrando apenas uma característica comum. Ou seja, a veracidade do relato estava baseada na casual coincidência de um detalhe repetido em outra suposta abdução. Neste caso, igualmente, é até desnecessário dizer, testes psicológicos não foram aplicados. Ocorrências clássicas como a do cabo do Exército Chileno Armando Valdés – seqüestrado por uma luz desconhecida na madrugada de 25 de abril de 1977, que teria vivido cinco dias em apenas alguns minutos, conforme indicava a sua barba crescida –, nunca tiveram prosseguimento científico e menos ainda trato responsável.
Para se ter uma idéia, Valdés chegou a ser submetido a degradantes sessões de eletrochoque, que lhe deixaram seqüelas muito piores às acarretadas por seus supostos raptores extraterrestres. Seu estado emocional foi tão abalado que não permitiu um trabalho de análise mais rigorosa. A combinação de vários fatores desfavoráveis impediu a investigação científica de certas denúncias. Todavia, desde os anos 40 são registradas em todo o mundo – e mais uma vez, especialmente no Chile – ocorrências com as mesmas características do Caso Valdés. Trata-se de um importante antecedente a ser considerado.
Os produtos ufológicos, cada vez mais consumidos por todos, como programas de televisão e literatura de ficção científica, podem ter influenciado na propagação de ocorrências inusitadas como as abduções alienígenas? Em um caso de 1943, a preceptora, ao observar uma entidade não identificada, pequena e microcéfala, desmaiou ante o impacto da vivência. A criatura, antes de desaparecer, deixou duas pegadas formadas por um líquido viscoso. A ficção científica já não teria antecipado experiências como essa? Para prejuízo da Ufologia, muitos ufólogos, por incapacidade, desinformação ou falta de recursos, negligenciaram esses aspectos, deixando-os se perderem no tempo.
Resgatando casos clássicos — Nosso grupo, a Associação de Investigações Ovniológicas Nacionais (AION), está atualmente tentando preencher esse vazio mediante um projeto denominado ABD, coordenado pelo doutor Mário Dussuel e com a participação e apoio de vários investigadores. Em primeira instância, os estudiosos resgatam e agrupam antigos casos de seqüestros. Na etapa seguinte, procuram saber o paradeiro dos seus protagonistas para agendamento de entrevista pessoal, caso ainda queiram falar de suas experiências. Posteriormente, é feita uma avaliação de suas vidas, para atestar a veracidade do relato.
As pesquisas algumas vezes não se concluem de imediato, requerendo acompanhamento. Um dos tópicos relevantes desse projeto é a análise da influência dos meios de comunicação – sobretudo da televisão e do cinema, com seus seriados e filmes de ficção científica – junto ao grande público. Se por um lado os efeitos culturais são lancinantes, por outro não chegam a representar parcela significativa dos casos de contatos imediatos.
Ou seja, a influência, em termos ufológicos, é um tanto débil. Principalmente dos Estados Unidos nos chegam múltiplos casos de abduções espetaculares, em que as evidências estão circunscritas ao mero relato da testemunha. Não há limites para o abduzido – sua fantasia corre solta, superando a de muitos autores de ficção científica. Quando analisamos a consistência interna desses relatos, no entanto, deparamo-nos quase sempre com uma repetição enfadonha dos conteúdos proporcionados por uma verdadeira subcultura ufológica. Hibridizações extraterrestres surgem por todos os lados, confundindo-se e concorrendo com seriados como Arquivo X e uma mixórdia de produtos vendidos em lojas especializadas e até em supermercados.
Pode parecer ridículo, mas a comercialização de máscaras e trajes de ETs tipo greys [Cinzentos] é conseqüência direta de uma febre ufológica disseminada pelos próprios abduzidos e ufólogos. Gerou-se um “consumismo ufológico” de cunho fetichista e mercadológico, assimilado por parte significativa da população. Torna-se muito difícil avaliar se a alegada experiência é fruto de uma real intervenção extraterrestre, dos conteúdos internos inconscientes ou da moda disseminada pela mídia. Os pesquisadores devem, portanto, ficar atentos e analisar todos os aspectos cientificamente.
O astrofísico e ufólogo J. Allen Hynek, quando fundou e dirigiu o Center for UFO Studies [Centro para Estudo dos UFOs, CUFOS], já chamava à atenção para as raras experiências de abduções em que aparece um “UFO real”, descartando a esmagadora maioria dos casos, que considerava produto de sonhos e alucinações. No Chile, curiosamente, certos abduzidos dizem ter sido raptados em sonhos, o que nos tem permitido realizar uma aproximação com as partes sensíveis do fenômeno, circunscrevendo-as em suas dimensões ufológicas e psicossociológicas.
Engravidadas por ETs — Em janeiro de 1994, a cidade chilena de Lota foi surpreendida por uma onda de aparições de objetos voadores não identificados. Entre as diversas testemunhas havia até um membro do Corpo de Bombeiros. Ele confirmou a passagem de três artefatos discóides, que produziram grandes clarões, afetando os sistemas elétricos da cidade. No mesmo momento, um integrante do corpo de reserva dos carabineiros [Policiais] da região registrou no livro de ocorrências da corporação o avistamento de um disco voador.
Conforme o relato, encontrava-se em seu quarto quando observou um feixe de luz branco-amarelada entrando através de sua janela e seguindo em sua direção. Ao ser atingido, perdeu completamente a consciência. Ao recobrá-la, não estava mais no quarto, e sim na sala de estar, sem saber como havia chegado lá. Marisa, uma jovem dona de casa, afirmou na época estar sendo continuamente abduzida por entidades alienígenas de diferentes raças. Suas experiências começaram quando era menina.
Certa noite, enquanto dormia, diz ter sido levada a um UFO por criaturas rosadas. A partir daí, passou a ser portadora de diversas mensagens de cunho semi-religioso relacionadas ao fim do mundo. Em uma dessas abduções, os supostos alienígenas a teriam engravidado para fins de reprodução e experiência genética. Extraíram seu bebê com poucas semanas de vida no “plano astral” e em seguida a incumbiram de uma importante missão. Marisa solicitou ser urgentemente hipnotizada, porque, segundo alegou, tinha “amnésias estranhas enquanto sonhava”.
Os dois casos supracitados são representativos de dois estilos de relatos com os quais temos nos confrontado. O primeiro geralmente se enreda numa somatória de variáveis e convida a investigações em diversas frentes, pois coloca em cena muitas observações simultâneas de UFOs de características anômalas e completamente alheias ao cotidiano. O efeito psicológico é forte pelo fato da pessoa ter vivenciado de forma consciente grande parte do processo. Aqui é necessária uma enquete nos arredores da área do provável sequestro com vistas a encontrar outras testemunhas. Essas vivências geralmente são únicas.
A personalidade é afetada como a de qualquer pessoa normal ante um fato anômalo e não apresenta sintomas de patologias psicológicas. Os contrastes entre os dois tipos de casos são notáveis. Em primeira instância, visões de luzes estranhas são relativamente comuns. Já o caso de Marisa surgiu logo depois que um canal de televisão passou a transmitir uma entrevista com um sujeito desconhecido da comunidade ufológica, de um país latino americano. Ele assegurou que há mulheres sendo engravidadas por extraterrestres no Chile. Entretanto, na hora de apresentar provas dessa alegação, saiu-se com evasivas. Sem qualquer constrangimento, justificou sua total falta de rigor, seu comportamento tendencioso e o excesso de fanatismo com o pueril e ridículo argumento da falta de interesse por parte dos cientistas.
Estes, no seu entender, teriam ficado tão impressionados com as “provas” – não apresentadas – a ponto de preferir se passar por desentendidos, atribuindo tudo a distúrbios psicológicos e à carência afetiva. Ora, qualquer cientista diante de provas válidas e contundentes não deixaria de reconhecer isso e trataria de explorar ao máximo a descoberta de algo extraordinário, como por exemplo, uma criança produto de hibridização extraterrestre, processo que se tem aludido nos últimos anos.
Manipulando sonhos — “Vários tipos de seres, uns cinzentos, outros ruivos e altos, sempre me seqüestram quando durmo. Algumas vezes chegam a me disputar, lutando por mim”, declarou Roberta em agosto de 1993. “Encontrava-me dormindo e me vi em uma grande sala. Observei umas pequenas criaturas levando-me através de um corredor branco”, declarou Berta em junho de 1996. “Minhas abduções ocorrem sempre no ‘astral’. Tenho visto eles um sem número de vezes. Chegaram até a me levar a seu planeta natal, Vênus. Nele vi lindas paisagens, inclusive cascatas”, declarou Diana em julho de 1996. “Acordo muito cansada, pois me sugam toda a energia enquanto viajo com eles.
Fecho os olhos e de imediato entramos em contato e eles me levam”, declarou Rosário em julho de 1996. Esses fragmentos de relatos ilustram um aspecto interessante do fenôme no das abduções alienígenas.
O mundo onírico constitui uma dimensão fundamental para as pessoas abduzidas repetidas vezes enquanto dormem. Os símbolos emergentes configuram novos sentidos e significados ao convencional. A personalidade se transforma e experimenta sensação de plenitude e satisfação. As agruras do cotidiano são matizadas por elementos atenuadores da rotina, da solidão, do vazio, do trauma ou da frustração.
É aqui, neste espaço do subjetivo, que são desenvolvidos os principais argumentos da “abdução”. O valor da mensagem ou o calibre da profecia influenciarão diretamente na freqüência das experiências e realismo relatado pelas vítimas. O dormir, portanto, passa a ser para o abduzido o estado no qual é possível alcançar, involuntária e automaticamente, dimensões paralelas e entrar em contato com extraterrestres – seres esses manipuladores do psiquismo e da sexualidade.
Tais são os aspectos principais de um fenômeno situado numa dimensão eminentemente psicológica e não propriamente física. A mente tece argumentos de acordo com os símbolos urdidos por uma cultura tecnológica. A inteligência extraterrestre é vista inconscientemente como o modelo máximo a ser alcançado. Os sonhos passam a ser o subterfúgio onde são expressos, de maneira camuflada, os conceitos deglutidos e elaborados pela própria pessoa devido a sua crença em relação aos ETs. É um ato subjetivo convertido em objetivo pela própria abduzida e por ufólogos desejosos em encontrar seqüestrados por extraterrestres a todo custo. Durante a fase da comunicação costumam emergir conteúdos de caráter apocalíptico. A abduzida torna-se depositária de um conjunto de informações, cujo aspecto mais contundente é a submissão aos mandamentos de Deus.
A abduzida Diana foi instruída, em junho de 1996, a ser fiel aos juízos de Jesus, reforçando de maneira enérgica a noção de um Deus único e benevolente. Aproximadamente 95% das abduzidas são portadoras de mensagens dessa natureza, as quais refletem suas próprias crenças e expressões de pressupostos espirituais calcados em uma cultura marcadamente judaico-cristã – em simbiose com elementos da cultura tecnológica moderna destituída de ética e valores. Tudo isso soa como legítimo protesto ou reação sintomática ante o cada vez mais incerto futuro da humanidade, corroborando o fato dessas vivências serem uma “tecnologização” dos mitos religiosos do ocidente.
“Sentia um grande prazer enquanto dormia, como se alguém estivesse fazendo amor comigo. Ao despertar, comecei a acariciar uma criatura pequena e viscosa, que se encontrava em cima de mim. Aí apareceu outro ser na porta e disse àquela criatura: ‘Vamos, ela não nos serve’. A partir dessa experiência venho mantendo contato com eles todos os dias. Conversamos e encontro com eles no astral”, declarou Angélica em janeiro de 1995. “Abri meus olhos e me vi num recinto branco, sobre uma cama da mesma cor, tendo ao lado um deles completamente despido. A partir desse instante minha memória se desvanece naquele sonho”, declarou Berta em julho de 1996.
Conteúdos sexuais — Cedo ou tarde, conteúdos sexuais emergem das experiências. Na minha acepção, se tratam de símbolos de compensação psicológica. Conforme pudemos constatar mediante detalhadas entrevistas, 90% das mulheres abduzidas não tinham um relacionamento estável. Detectamos também problemas diversos relacionados à sexualidade. Destarte, a gravidez acaba adquirindo um significado quase sagrado para a sequestrada. Ela se sente tal qual a Virgem Maria, uma escolhida dos céus, incumbida de atender objetivos supremos ao levar a “semente do universo” no ventre.
Não redutíveis a explicações psicológicas são os indícios da presença de um UFO verdadeiro. Em todos os casos de abduções investigados pela AION deparamo-nos com a total ausência de discos voadores e observações em horas de vigília. Absolutamente todas as experiências desse tipo transcorreram enquanto as pessoas dormiam. Não houve nenhum instante em que as vítimas estavam despertas.
Quase todas essas experiências são perfeitamente explicáveis em termos de alucinações hipnogógicas e hipnopómpicas. O primeiro estado se produz quando a pessoa começa a despertar e se encontra saindo do sonho. Nessa transição para a vigília afloram elementos do próprio inconsciente. O segundo estado tem o mesmo mecanismo, porém no sentido inverso, ou seja, quando a pessoa começa a ingressar no estado de sonho.
Mas a ausência de observações de UFOs e a provável interação destes com a preceptora constituem características importantes, que atestam a inexistência de uma vivência consistente. O resto da história se transforma em algo perfeitamente previsível. A ausência de um UFO real impossibilita relatos de testemunhas nas proximidades e acréscimo de mais detalhes à ocorrência. A investigação torna-se falha no aspecto científico, não se distinguindo das notícias marcadas por uma perspectiva explicável pela via psicológica. Um sentido messiânico latente perpassa todos os relatos de pseudo-abduções.
A abduzida se considera escolhida para desempenhar uma importante missão. A entidade abdutora é elevada em sua hierarquia e revestida de aura espiritual divinizante. A abduzida tende a suavizar os traços grotescos e atribuir ao raptor qualidades dignificantes: “Era um ser de cabeça grande, olhos avultados e penetrantes, porém muito sábio”, disse Rosário.
“Seu tamanho era enorme, mas de rosto muito angelical”, disse Diana. As atitudes de quem passa por essas experiências são nitidamente antropocêntricas [Com tendência a conceber o universo em termos de experiências ou valores humanos]. O aspecto central da experiência versa em torno da preocupação dos extraterrestres em relação ao futuro da humanidade. Todos os esforços são desprendidos com a finalidade de salvaguardar a espécie humana e a intermediação é vital para o cumprimento dos propósitos alienígenas.
À luz da racionalidade desapaixonada, verificamos a prevalência de um sentido bastante ingênuo neste quadro. Todos os fundamentos propostos trazem em seu âmago preconceitos e juízos de valor morais, culturais ou religiosos. A própria pessoa afetada exacerba sua necessidade de protestar ante seus familiares e amigos, ou mesmo à sociedade em geral, e o faz por meio das mensagens enviadas desde um “Conselho Intergaláctico” ou o próprio “Jesus Cristo”. Esses são casos mais extremos, quando a hierarquização do abduzido se funde com os preceitos judaico-cristãos internacionalizados e arraigados na consciência do “missionário” imbuído da urgente necessidade de sacralizar um mundo desprovido de alma e espírito.
Sinal de alerta — Na maior parte dos casos cujo fenômeno vivenciado se encaixava perfeitamente no aspecto psicológico, a variável das experiências traumáticas – lares mal formados, autoritarismo paterno, casamentos infelizes etc – é admitida pelas próprias protagonistas. Há inclusive tentativas forçadas de explicar os mesmos processos traumáticos da infância contextualizando-os no parâmetro da abdução. “Os sofrimentos de minha infância eram necessários para purificar minha alma e assim poder ser abduzida”, declarou Diana em julho de 1996. Antes de encararmos isso como sublimação positiva, devemos tomar tal declaração como sinal de alerta, pois se trata do indicativo sintomatológico de nova patologia psicológica, produto de instâncias traumáticas individuais mescladas com situações sociais mencionadas anteriormente.
Todos os pesquisadores e profissionais da área devem cuidar para evitar a massificação desse tipo de comportamento doentio. A sintomatologia é parte de uma diversidade de reações geradas no interior da própria sociedade ante a incerteza provocada pelas rápidas transformações tecnológicas em curso e a pouca adaptabilidade da consciência humana em um mundo dominado pelas incertezas. A mente fabrica respostas visando superar temores, e para tanto recorre a mitos, símbolos e elementos mágicos revestindo-os com aparatos espaciais.
Objeto flutuando — “A luz pequena girava ao redor do caminhão e meus dois acompanhantes não se precaveram do acontecido, pois já era tarde e dormiam atrás de mim. De repente, a luz ascendeu a uma elevada altitude. Vi como dela se desprendeu um objeto, que desceu suavemente e ficou flutuando a uma distância de 30 m de meu caminhão e a uns três metros de altura. Parei o veículo, desci e fui em direção ao objeto. Desse ponto em diante não me recordo de mais nada. Quando recobrei a consciência estava em direção oposta, ou seja, em frente ao caminhão. Meus acompanhantes, aterrorizados, garantiam ter me visto sendo materializado do nada”, declarou Rene em janeiro 1993. “Estava caminhando em direção a minha casa durante a noite e de repente uma massa de luz acendeu do meu lado esquerdo.
Perdi a consciência e quando recobrei a mesma, me encontrava afastado cerca de 20 m do lugar onde estava originalmente, com uma leve queimação em um lado do rosto. Um mês depois me submeti a um exame médico e a doutora me indagou sobre uma cicatriz em meu braço: ‘Quando o senhor operou este braço? ’ Estupefato respondi jamais ter sido operado em minha vida. A doutora, por sua vez, replicou: ‘Como não, se há pontos em seu braço?’ ”, declarou Mário em janeiro de 1995.
“O objeto estava flutuando no meio da estrada. De meu veículo observei quando ele se deslocou ligeiramente para o lado, abrindo passagem para um caminhão. Mas quando enfrentei o objeto, este não se esquivou, paralisou meu veículo e perdi a consciência por um período de duas horas, pois meu relógio parou no instante da experiência”, declarou Heitor em maio de 1996. Experiências ufológicas de alta relevância como essas, nas quais os fatos em si são conseqüências de situações mais objetivas, porém de estranha natureza, continuam sem explicação e talvez assim permaneçam por muito tempo. As dificuldades residem não somente nos aspectos metodológicos – a demandar aperfeiçoamentos –, mas também nos suportes intelectuais aos quais estamos acostumados e quase sempre reformulados ante novos paradigmas. Nas experiências de abduções é possível apreciar a existência de uma gama de elementos impregnados de caráter muito mais global.
Caso houvesse a intervenção de agentes externos, testemunhas poderiam confirmar a aparição de UFOs nos locais das abduções. Quem observa tais fatos se encontra em estado de completa consciência e lucidez, fornecendo relatos na maioria das vezes isentos, distanciados e objetivos. Já as seqüelas físicas e psicológicas dos abduzidos se explicam pelas vivências de caráter traumático. Muitos as mantêm em sigilo por anos, tomando o cuidado de disfarçá-las. Temem ser expostos e estigmatizados socialmente. Os temores iniciais giram em torno da exeqüibilidade recorrente das experiências. Elas poucas vezes o são. Porém, quando isso ocorre, a personalidade do abduzido pode ter desenvolvido incrível resistência psicológica e não sofrer impacto emocional tão forte quanto foi no começo. Um abduzido aqui do Chile efetivamente apresentou todos os sintomas característicos de uma vivência real, entre eles lapsos de memória. Em muitos casos os UFOs estiveram presentes e foram testemunhados pelos moradores das proximidades. Na totalidade dos casos, essas pessoas nunca tiveram contato com as pessoas abduzidas. Fica descartado, portanto, quaisquer mecanismos de indução.
Da curiosidade ao ceticismo — Os UFOs eram em sua maior parte objetos esféricos de cores variando entre o amarelo e o alaranjado. As descrições eram quase sempre coincidentes, senão exatamente idênticas, não variando de região para região. Ademais, as testemunhas procuraram antes uma explicação convencional para o fenômeno, comparando-o com algo conhecido, estando alheios ao fato de ter havido nos arredores uma abdução por alienígenas. As reações variavam da curiosidade ao total ceticismo.
A ausência de patologias psicológicas nas testemunhas, em contraste com as dos abduzidos, é um dado deveras interessante e revelador. Os que apenas avistaram as naves continuam vivendo normalmente. Já os abduzidos, procuram se destacar e ascender a patamares inacessíveis à quase totalidade dos seres humanos. Devemos ser capazes de ver nessa atitude algo oculto e subjacente. Para tanto, temos que abandonar nossas próprias condicionantes culturais e históricas e mudar a forma como encaramos e interpretamos a realidade.
Fonte: Revista UFO